Cutting:
Automutilação - Um transtorno mental manifestado em pequenos cortes pelo corpo
- é diferente de tentativa de suicídio, mas a automutilação deve ser sempre
tratada como uma demonstração de tristeza.
A
Associação de Saúde Mental do Canadá descreve o problema da seguinte forma:
“Usualmente eles não estão tentando acabar com todos os sentimentos; estão
tentando se sentir melhor. Sentem dor externa, não interna”.
Um
distúrbio difícil de tratar, e especialistas afirmam que vem aumentando entre
os adolescentes e adultos jovens.
Há
algumas razões que os jovens dão para machucarem repetidamente seus próprios
corpos:
“Eu
me sinto aliviado e menos ansioso após me cortar. A dor emocional vagarosamente
se esvai em dor física”.
“Isso
expressa a dor emocional e os sentimentos que eu não consigo pôr em palavras”.
“Eu
normalmente sinto como se tivesse um buraco negro no fundo do meu estômago.
Pelo menos, se eu sinto dor é melhor do que não sentir nada”.
Pais,
professores e amigos devem estar atentos a estes sinais de comportamento e
observar a frequência, observar se o jovem se esconde usando roupas que cubram
as lesões para tão logo iniciar o tratamento com um profissional especializado.
Pesquisas
entre estudantes jovens sugerem que 17% deles já se automutilaram e especialistas
estimam que a automutilação abrange praticamente 15% da população geral de
adolescentes. Os especialistas dizem que a automutilação é frequentemente uma
resposta emocional e não uma tentativa de suicídio. Contudo o suicídio entre os
automutiladores é uma preocupação.
Janis
Whitlock, um psicólogo que entrevistou aproximadamente 40 pessoas com histórias
de automutilação e que está participando de um estudo em oito centros
relacionados, diz:
“Há
um aumento crescente de adolescentes na Internet discutindo sobre como se
cortar e como formar clubes sobre essa temática na escola”. Automutilações
comuns incluem cortar a pele, arranhar, queimar, arrancar ou puxar a pele ou
cabelo, beliscar, bater, engolir doses sub-letais de substâncias tóxicas, bater
a cabeça, enfiar agulhas ou quebrar os ossos. Os alvos usuais são os braços,
pernas e dorso, áreas de fácil contato e também fáceis de serem escondidas sob
a roupa.
Dr.
Whitlock, diretor do “Programa Cornell de Pesquisa sobre o Comportamento de
Automutilação em Adolescentes e Jovens Adultos”, diz em entrevista que a automutilação
parece ter função de autorregulação dos sentimentos, além de ajudar a pessoa a
enfrentar as emoções negativas que não se dissipariam de outra forma.”
A
automutilação pode ser manipulativa, um esforço para que os outros cuidem da
pessoa. Frequentemente, ela ocorre escondida. Automutiladores tentam esconder
os ferimentos sob longas calças e longos casacos, mesmo em dias quentes. Frequentemente
se manifesta quando ocorrem mudanças emocionais intensas na pré adolescência,
podendo persistir até a idade adulta.
Estudos
indicam que o comportamento é praticado em igual proporção por homens e
mulheres. Nenhum grupo racial ou socioeconômico é mais vulnerável, diz o Dr.
Whitlock.
Entrevistas com automutiladores mostram que
alguns fatores podem instalar e perpetuar o comportamento. Uma história de
abuso sexual na infância, especialmente o abuso emocional, foi reportado por
metade dos automutiladores ou mais. Alguns procuram alívio para a dor
emocional. Outros infligem dor para punir a si mesmos pelo que percebem ter
sido seu papel em permitir o abuso.
Baixa
autoestima é comum entre os automutiladores. Negligência na infância,
isolamento social e condições instáveis de vida são citadas como fatores de
risco. Em aproximadamente 25% dos automutiladores há uma história de transtorno
alimentar, assim como abuso de álcool e sexo de risco.
As
famílias dos automutiladores comumente suprimem as emoções negativas. As
crianças crescem sem saber como expressar e lidar com sentimentos como o ódio
ou a tristeza, direcionando a dor emocional para si.
Embora
60% dos automutiladores nunca tenha tido pensamentos suicidas, esse
comportamento pode ser o gatilho para o comportamento suicida. A automutilação
pode também acidentalmente resultar em suicídio.
“Aqueles
que se automutilam deveriam ser avaliados como suicidas em potencial”, disse o
Dr. Whitlock. Há alguma evidência de que a automutilação é mais comum entre
aqueles com famílias com histórico de suicídio. Alguns automutiladores sofrem
também de problemas emocionais como a depressão, o estresse pós-traumático ou o
transtorno obsessivo-compulsivo.
A
automutilação pode ser instalada por certos eventos como a rejeição por alguém
importante, a sensação de estar errado ou ser culpado por algo de que a pessoa
não tenha controle.
O papel da escola: A escola precisa
reagir ao observar qualquer processo de sofrimento com crianças e adolescentes,
diz a integrante do Núcleo Vida e Cuidado, Pedagoga do Centro de Educação da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Ana Maria Borges de Souza. O
professor que está em contato direto com os alunos tem que olhar com atenção
para qualquer forma de sofrimento - observar o corpo, porque, muitas vezes,
é ele que expressa o sofrimento. A escola deve acolher afetivamente esse aluno,
demonstrar que está disponível para escuta e que pode compreender seus
problemas. Segundo a professora, a conversa deve ser primeiro com o aluno,
mostrando que a palavra da criança tem valor na escola. Essa conversa também
deve servir para verificar se existe algum conflito familiar, e só depois a
escola deve chamar a família para discutir o problema. “Se o motivo está em um
problema em casa, chamar os pais primeiro pode ser ainda mais prejudicial para
a criança”, diz.
Tratamento:
O mais importante é reconhecê-la como um transtorno mental que precisa de
atenção e cuidado, por meio de avaliação psiquiátrica. Em casa, o apoio da
família é essencial. Quanto mais cedo o transtorno for tratado, maiores são as
chances de a prática não se repetir. Transtornos mentais como o cutting não
podem ser tratados apenas com medicamentos, o tratamento deve ser metade
medicação e metade psicoterapia (acompanhamento psicológico). Como é muito
comum ter outros problemas psiquiátricos associados, eles devem ser tratados ao
mesmo tempo, mas sempre com o cuidado de utilizar remédios que não atrapalhem a
vida escolar do adolescente. Ainda que não existam medicamentos que tratem a
automutilação, drogas que tratam os problemas emocionais colaterais como a
depressão e a ansiedade podem ajudar. Os automutiladores podem aprender outras
formas de aliviar o estresse, como a meditação ou yoga, o engajamento em
atividades físicas ou ainda o entretenimento com um grupo de amigos.
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